UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
ICHI/UAB/SEAD
POS-RS RIO GRANDE DO SUL: SOCIEDADE,
POLITICA E CULTURA
PODER E POLITICA
PROFESSOR JUSSEMAR WEISS GONÇALVES
PROFESSOR JUSSEMAR WEISS GONÇALVES
Infiéis Transgressores:
Os contrabandistas da fronteira
(1760-1810)
Tiago Luís Gil
Maria Cristina Pastore¹
crisrgs2000@yahoo.com.br
As considerações aqui apresentadas sobre o capitulo 04 “A produção
social da mercadoria”, do livro “Infiéis transgressores” de Tiago
Gil, tem como objetivo refletir sobre os elementos determinantes para a
dominação e expansão da família Pinto Bandeira nas cercanias de São Pedro. Perceber
nas relações familiares, a rede de conchavos, jogo de influencias que
permitiram varias atividades licitas e ilícitas, tráfico de influencias, crimes
praticados em nome de sua majestade da coroa portuguesa, são elementos pontais
nessa impressão aqui registrada. Nesse sentido as ações de Rafael Pinto Bandeira
como líder militar e patriarcal, extrapolaram o bom senso e noção de
patriotismo, usando de violência para alcançar seus intentos e utilizando de
seu prestígio militar para elaborar um esquema muito bem montado de
manipulação. Embora admirado e condecorado com honras militares, suas
atividades perniciosas e adulteradas, enriqueceram alguns e prejudicaram
muitos.
A produção da riqueza pode ser identificada na atividade de comercio
realizada na época pelos tropeiros, porem o contrabando e o jogo de influencias
se apresenta como fator de enriquecimento do militar. Os negócios de Rafael
Pinto Bandeira, de acordo com o autor Tiago Gil e documentos citados no texto, podem
ser compreendidos como acobertados por interesses e socialmente aceitos por
troca de favores. A necessidade de proteção das fronteiras permitia certas
regalias do oficial, que exercia influencia e ampliava redes de amizades
importantes para articular seu domínio na região. Essa proteção negociada
fortalecia seu nome e suas ações na guerra, proporcionavam condecorações e
prestígio, que soube muito bem usar em seu favor.
Rafael Pinto Bandeira envolvia membros da família, formando um grupo
fortemente vinculado com os interesses econômicos e políticos comprometidos com
a causa pessoal e enriquecimento censurável. Por 30 anos operou na legalidade
contando com o apoio da coroa portuguesa. A mesma sentia-se representada na
figura do comandante Rafael, admitindo suas regalias como troca de trabalho
permitindo a ocupação e expansão do bando organizado pelo oficial.
Algumas tentativas de desarticular o bando fazendo oposição às
atividades do grupo foram combatidas com violência e encaradas como inveja dos
acusadores pela ascensão do militar, pelo império português. Deste modo
conceitos como valores éticos e imparcialidade não eram considerados nesse
evento de ocupação e domínio. Acobertado pelas autoridades permite pensar uma
definição para essa atitude: um mal necessário.
Contradições sociais representadas por oprimidos e opressores garantiam
condições de trabalho impostas e gerava uma rede de relações em favor do
contrabando. Nesse sentido, Rafael soube traçar boas relações, seja por
imposição ou por laços familiares, realizando casamentos de parentes com
importantes membros da sociedade e ate mesmo o próprio, casando com filha de
chefe de importante tribo como os minuanos, assim fechando círculos
respeitáveis para realizar seus planos de domínio.
Inteligente e astuto, mantem relações com a Rainha, e traves de
correspondência reivindica sua
ancestralidade, relembrando feitos militares de seu pai, Francisco Pinto
Bandeira, demonstrando grande habilidade em manipular informações em benefício
próprio. Rafael soube administrar sua herança patrimonial, gerenciar e manter
uma rede de relações bem organizada.
As campanhas de guerra rendiam ao militar, alianças com lideres
regionais, coerção e reciprocidade. Possibilitando ao coronel da Cavalaria
Ligeira compor sua imagem na força e na associação com pessoas influentes em
determinado local que lhe preocupava. Ganhava respeito e admiração, assim como impunha
através do medo seus intentos. Conforme o autor GIL (p. 133) “Poder e força de
coerção social que a família Pinto Bandeira possuía.” transmite o resultado em
fazer parte dessa família, na qual a produção do medo e a imposição da
violência eram importantes para manter os negócios.
Edificou seu patrimônio estruturado em suas façanhas na guerra, em sua
autoridade militar e no temor publico, assim, com essa frente de “homem de bem”
encobria seus negócios e desenvolvimento pessoal.
O texto permite pensar nas relações de reciprocidade, na qual Rafael
Pinto Bandeira planejava minuciosamente cada ato e aliança, analisando os
benefícios e construindo estratégias de ganhos para si e para seus homens.
O caráter empreendedor e articulador de Rafael constituiu a base forte
da relação mercadoria/lucro, tanto nas atividades desonestas como as permitidas
por lei. As acusações e investigações que foram proferidas contra Rafael Pinto Bandeira,
testemunhas e informantes ouvidos, não resultaram em nenhum contratempo para o então
Brigadeiro. A mando da rainha os processos foram arquivados.
Diante de todos os fatos, o texto demonstra a rede de influencias que
existiam na época e como dominavam através do comercio e da guerra, as classes
pobres e desprovidas de recursos. Porém não exerciam a força e o poder apenas
nessas esferas, seus artifícios e estratégias dominantes ampliavam para classes
sociais dos poderosos, criando alianças (vínculos comerciais, políticos e
afetivos) e se ocorria alguma oposição (sem expressão), era resolvida de forma violenta,
produzindo o medo, evitavam assim, a proliferação de outras fontes de qualquer
obstáculo aos seus propósitos.
Em um coletivo envolvido pela oportunidade de lucros e busca da
sobrevivência, permite pensar na sociedade contemporânea, traçando relação nos
conchavos políticos e comerciais que ainda são articulados, comparando, embora
contextos diferentes, a rede de influencias que continuam a ser executados.
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