sábado, 12 de outubro de 2013

CONSTRUINDO A IGUALDADE E O RESPEITO NA SALA DE AULA RESPONSABILIDADE SOCIAL

RESUMO: A partir das apreciações de autores que versam sobre a educação e suas especificidades, FREIRE e AUAD buscaremos compreender o cenário da sala de aula na questão de gênero enquanto definição de papeis sociais no grupo. As relações que permeiam esse espaço efervescente de organismos conflitantes e socialmente desprovidos de atitudes maduras, necessitados de códigos de conduta, que muitas vezes, reproduzem estereótipos e atitudes que não são mais aceitáveis na vida contemporânea. Articular formas de convívio entre os alunos e exercer a igualdade das diferenças e a diversidade de gênero, tem sido um desafio diário para os professores e profissionais envolvidos com a educação. A responsabilidade de formar um adulto com valores familiares e respeito pelo outro tem se mostrado conflitante no momento em que se decide e esclarece que valores são esses empregados pela sociedade ocidental. O presente texto pretende contribuir com reflexões acerca da força da educação e a responsabilidade social do profissional em educação para amenizar as diferenças entre feminino e masculino nas relações sociais escolares, promovendo um discurso construtivo no reconhecimento da igualdade de direitos e na disseminação do conhecimento das paridades.
Palavras chaves: Diversidade, educação, gênero, sala de aula.

Introdução
A sala de aula é um laboratório no qual as experiências acontecem em uma comunicação síncrona. Nesse sentido percebemos as interações entre os alunos e compreendemos definidos os agentes sociais no processo de inibir ou incentivar as diferenças entre os atuantes menino e menina, embora não resoluto às praticas que são exercidas para promover ou reafirmar as desigualdades.
Sob a pressão dos tempos atuais e as mudanças hipersônicas que ocorrem nas relações sociais, a sociedade procura nos conceitos que regulam as relações, nas regras e valores, a intenção de normatizar os comportamentos. As questões de gênero estão desestabilizando preconceitos e reformulando pensamentos, justificando a liberdade de ser e pensar autônomo incentivado por uma educação libertadora. Porem nem todos os sujeitos estão dispostos a compreender e aceitar as diferenças e as mudanças que estão evidentes, pontuando todos os setores da vida em comunidade, inclusive os espaços educacionais. Papeis exclusivamente do gênero masculino como o provimento do lar cede espaço para o gênero feminino, assim as praticas sociais contemporâneas estão escrevendo a história das relações humanas. E escola como espaço formativo de cidadão possui importante papel dentro das expectativas da sociedade.

A partir de meados da década de 80, no Brasil, tornou-se crescente a necessidade de saber como a escola, em suas atividades habituais e rotineiras, está implicada nos processos de diferenciação e de desigualdade entre o feminino e o masculino.
Esse desejo de conhecer as relações de gênero na escola originou-se, em grande parte, nos movimentos sociais, nas universidades e nos grupos de pesquisa. AUAD, p.


Desconstruir para construir


Sabedores que a educação ocorre a todo o momento em vários espaços formais ou não formais (BRANDÃO) e o ser humano carrega uma carga genética social de informações por gerações, permite refletir que a alteração nos modos de pensar e agir diante de determinada situação não aconteçam de imediato. A gestão do conhecimento e o comportamento ético do educador auxiliam nas mudanças comportamentais dos agentes participantes. E essas mudanças serão perceptíveis dentro de cada individuo, principalmente quando estiver frente a uma situação na qual é necessário buscar em seu conhecimento o comportamento necessário para resolver qualquer tipo de  conflito que se apresenta no momento. Podemos afirmar que ao acorrer esse tipo de situação houve a apreensão do que foi ensinado, seja para o bem ou para o mal, violência ou paz, respeito ou intolerância.
Embora a educação formal organize meios de conduzir conflitos de gênero dentro da sala de aula, a configuração ainda apresenta-se visualmente no menino jogando bola e a menina conversando ou ouvindo musica, situações comuns em espaços escolares.
Conforme Guimaraes “Por entender que a observação é uma das características da atividade científica, sendo um importante método utilizado em pesquisa educacional.” Verificamos nas observações realizadas em sala de aula que quando existem “estranhos” se arriscando adentrar em universo “proibido”, são articulados adjetivos como “mulherzinha” para o menino que se afasta do grupo de meninos e que fica com as meninas, não está interessado no jogo de bola. Para as meninas usam nomes como “Joãozinho” para aquela jovem que tenta penetrar no “mundo masculino”. A partir dessas constatações estereotipadas, percebemos que ainda ocorre e está presente na sociedade, o fenômeno “menino: azul/menina: rosa”. Este evento não ocorre somente dentro da escola, parece ser um ato cultural. Aparece nas rotinas de casais que preparando os enxovais de bebes, conforme o sexo determina a cor do uso da roupa do primeiro dia.
Para compor esse olhar inicial sobre o preconceito e senso comum, as contribuições de Paulo Freire podem auxiliar no entendimento de como a educação está comprometida com as transformações, com mudanças nas praticas pedagógicas e com a preocupação em evidenciar o respeito com o outro.

Mas, infelizmente, o que se sente, dia a dia, com mais força aqui, menos ali, em qualquer dos mundos em que o mundo se divide, é o homem simples esmagado, diminuído e acomodado, convertido em espectador, dirigido pelo poder dos mitos que forças sociais poderosas criam para ele. Mitos que, voltando-se contra ele, o destroem e aniquilam. FREIRE,1967, p51


Apesar de todos os esforços para vencer as barreiras do preconceito, das desigualdades muitas vezes os educadores recebem rótulos de protetores,
principalmente por pais omissos que não cogitam as disposições dos filhos para cometerem violência e oprimirem os mais fracos. Afinal, para alguns a violência esta ligada ao comportamento de afirmação masculina. De acordo com AUAD, concebe a violência como aprendida nas relações de feminino e masculino.

A agressividade dos meninos, por exemplo, pode ser a aprendizagem da competição da vida adulta, mas também pode fazer com que meninos e meninas aprendam já na infância que há um conjunto de comportamentos interditos para eles e para elas, a partir das representações sobre a agressividade aceita para os homens e a aceita para as mulheres. AUAD


A equidade ainda não está presente em todo o profissional da educação, muitas vezes a imparcialidade não exercida compromete a avaliação do momento em que ocorre a necessidade de existir o bom senso para resolver questões difíceis em sala de aula. Não reconhecer os atos de inibição, ou opressão em função das diferenças e até mesmo a violência praticada para resolver os processos de desigualdades nos elementos reconhecidos de masculino e feminino, tem se mostrado desafios educacionais e portadores dos empecilhos da evolução no processo de anuência das diferenças.
A ÉTICA EDUCACIONAL

A educação apresenta-se ética na forma de equilibrar as desigualdades, o problema é quando a educação mediada continua inserida no contexto do preconceito, assim, portanto continua reproduzindo os mesmos equívocos. Os profissionais da educação muitas vezes afirmam as diferenças com um discurso que meninas possuem letra mais bonita que dos meninos, que meninas são mais comportadas que meninos, assim reproduzindo estereótipos.
Conforme Freire
A ética de que falo é a que se sabe traída e negada nos comportamentos grosseiramente imorais como na perversão hipócrita da pureza em puritanismo. A ética de que falo é a que se sabe afrontada na manifestação discriminatória de raça, de gênero, de classe. É por esta ética inseparável da prática educativa, não importa se trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, que devemos lutar. E a melhor maneira de por ela lutar é vivê-la em nossa prática, é testemunhá-la, vivaz, aos educandos em nossas relações com eles. FREIRE

A ação docente carece de equidade, compromisso e ética. Percebemos a importância dos vários agentes envolvidos para que ocorram as transformações esperadas e desejadas pelo binômio família/escola. Para tanto são necessárias reformulações em currículos, profissionais preparados e atualizados, compromisso e envolvimento dos educadores. Com todos esses elementos, o discurso ficará vazio, nada acontece se não houver ética nos procedimentos. Só poderemos exercer uma ética se realmente a vivermos em nosso dia a dia. Se a incorporamos em nossa personalidade. As praticas cotidianas somente poderão ser fundamentadas nas bases éticas comportamentais.
O jogo de empurrar as responsabilidades para outros no momento da dificuldade, estabelece um circulo vicioso na qual as questões de gênero são imputadas para outro segmento da sociedade, e muitas vezes as formas apontadas das causas estão relacionadas com atitudes e educação. Sendo assim, parece logico refletir que todos são responsáveis socialmente por questões que envolvam o equilíbrio da convivência humana. Mas é nos espaços da educação formal, a escola, mais especificamente na sala de aula, que aparecem evidências formalizadas em violência, preconceito, bullying. O respeito pelas diferenças raciais, gênero, classe social, enfim a diversidade dos agentes sociais que se apresentam no momento contemporâneo, necessita ser     pensado interdisciplinarmente, e de trabalho coletivo em favor da sensatez e bom senso, buscando a estabilização das relações humanas. Embora o processo seja lento, requer pesquisa cientifica e fundamentada em experiência, no sentido de auxiliar o docente a interagir com suas limitações e superara-las.
A educação exercida de forma democrática e liberada de preconceitos incrustados de geração em geração, em um processo de desconstrução para construir, não parece apresentar fácil execução, porem os educadores precisam preparar suas qualificações no desenho da contemporaneidade.

REFERÊNCIAS

AUAD, Daniela. Relações de Gênero nas práticas escolares: da escola mista ao ideal de coeducação. Tese (Doutorado em Educação, área de Sociologia da Educação), São Paulo, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2004.

BRANDÃO. Carlos R. O que é educação, 33ª Ed. Brasiliense, São Paulo. 1995

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.

______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

______. Pedagogia da esperança um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro Paz e Terra, 1997.

______. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.



GUIMARAES, Leticia de Castro. Relação de gênero na escola: contribuições da pratica docente para a desmistificação de preconceitos em relação ao sexo. Pesquisa de conclusão de curso da Universidade Federal do Maranhão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário