RESUMO: A
partir das apreciações de autores que versam sobre a educação e suas
especificidades, FREIRE e AUAD buscaremos compreender o cenário da sala de aula
na questão de gênero enquanto definição de papeis sociais no grupo. As relações
que permeiam esse espaço efervescente de organismos conflitantes e socialmente
desprovidos de atitudes maduras, necessitados de códigos de conduta, que muitas
vezes, reproduzem estereótipos e atitudes que não são mais aceitáveis na vida
contemporânea. Articular formas de convívio entre os alunos e exercer a igualdade
das diferenças e a diversidade de gênero, tem sido um desafio diário para os
professores e profissionais envolvidos com a educação. A responsabilidade de
formar um adulto com valores familiares e respeito pelo outro tem se mostrado
conflitante no momento em que se decide e esclarece que valores são esses
empregados pela sociedade ocidental. O presente texto pretende contribuir com
reflexões acerca da força da educação e a responsabilidade social do
profissional em educação para amenizar as diferenças entre feminino e masculino
nas relações sociais escolares, promovendo um discurso construtivo no
reconhecimento da igualdade de direitos e na disseminação do conhecimento das
paridades.
Palavras chaves: Diversidade,
educação, gênero, sala de aula.
Introdução
A sala de aula é um laboratório no qual as experiências
acontecem em uma comunicação síncrona. Nesse sentido percebemos as interações entre
os alunos e compreendemos definidos os agentes sociais no processo de inibir ou
incentivar as diferenças entre os atuantes menino e menina, embora não resoluto
às praticas que são exercidas para promover ou reafirmar as desigualdades.
Sob a pressão dos tempos atuais e as mudanças
hipersônicas que ocorrem nas relações sociais, a sociedade procura nos
conceitos que regulam as relações, nas regras e valores, a intenção de
normatizar os comportamentos. As questões de gênero estão desestabilizando preconceitos
e reformulando pensamentos, justificando a liberdade de ser e pensar autônomo
incentivado por uma educação libertadora. Porem nem todos os sujeitos estão
dispostos a compreender e aceitar as diferenças e as mudanças que estão
evidentes, pontuando todos os setores da vida em comunidade, inclusive os
espaços educacionais. Papeis exclusivamente do gênero masculino como o
provimento do lar cede espaço para o gênero feminino, assim as praticas sociais
contemporâneas estão escrevendo a história das relações humanas. E escola como
espaço formativo de cidadão possui importante papel dentro das expectativas da
sociedade.
A partir de meados da década de 80, no
Brasil, tornou-se crescente a necessidade de saber como a escola, em suas
atividades habituais e rotineiras, está implicada nos processos de
diferenciação e de desigualdade entre o feminino e o masculino.
Esse desejo de conhecer as relações de gênero
na escola originou-se, em grande parte, nos movimentos sociais, nas
universidades e nos grupos de pesquisa. AUAD, p.
Desconstruir
para construir
Sabedores que a educação ocorre a todo o momento em
vários espaços formais ou não formais (BRANDÃO) e o ser humano carrega uma
carga genética social de informações por gerações, permite refletir que a
alteração nos modos de pensar e agir diante de determinada situação não
aconteçam de imediato. A gestão do conhecimento e o comportamento ético do
educador auxiliam nas mudanças comportamentais dos agentes participantes. E
essas mudanças serão perceptíveis dentro de cada individuo, principalmente
quando estiver frente a uma situação na qual é necessário buscar em seu
conhecimento o comportamento necessário para resolver qualquer tipo de conflito que se apresenta no momento. Podemos
afirmar que ao acorrer esse tipo de situação houve a apreensão do que foi
ensinado, seja para o bem ou para o mal, violência ou paz, respeito ou
intolerância.
Embora a educação formal organize meios de conduzir
conflitos de gênero dentro da sala de aula, a configuração ainda apresenta-se visualmente
no menino jogando bola e a menina conversando ou ouvindo musica, situações comuns
em espaços escolares.
Conforme Guimaraes “Por entender que a observação é uma
das características da atividade científica, sendo um importante método
utilizado em pesquisa educacional.” Verificamos nas observações realizadas em
sala de aula que quando existem “estranhos” se arriscando adentrar em
universo “proibido”, são articulados adjetivos como “mulherzinha” para o menino
que se afasta do grupo de meninos e que fica com as meninas, não está interessado
no jogo de bola. Para as meninas usam nomes como “Joãozinho” para aquela jovem que
tenta penetrar no “mundo masculino”. A partir dessas constatações
estereotipadas, percebemos que ainda ocorre e está presente na sociedade, o fenômeno
“menino: azul/menina: rosa”. Este evento não ocorre somente dentro da escola,
parece ser um ato cultural. Aparece nas rotinas de casais que preparando os
enxovais de bebes, conforme o sexo determina a cor do uso da roupa do primeiro
dia.
Para compor esse olhar inicial sobre o preconceito e
senso comum, as contribuições de Paulo Freire podem auxiliar no entendimento de
como a educação está comprometida com as transformações, com mudanças nas
praticas pedagógicas e com a preocupação em evidenciar o respeito com o outro.
Mas, infelizmente, o que se sente, dia a dia,
com mais força aqui, menos ali, em qualquer dos mundos em que o mundo se
divide, é o homem simples esmagado, diminuído e acomodado, convertido em
espectador, dirigido pelo poder dos mitos que forças sociais poderosas criam
para ele. Mitos que, voltando-se contra ele, o destroem e aniquilam. FREIRE,1967,
p51
Apesar de todos os esforços para vencer as barreiras do
preconceito, das desigualdades muitas vezes os educadores recebem rótulos de protetores,
principalmente
por pais omissos que não cogitam as disposições dos filhos para cometerem
violência e oprimirem os mais fracos. Afinal, para alguns a violência esta
ligada ao comportamento de afirmação masculina. De acordo com AUAD, concebe a
violência como aprendida nas relações de feminino e masculino.
A agressividade dos meninos, por exemplo,
pode ser a aprendizagem da competição da vida adulta, mas também pode fazer com
que meninos e meninas aprendam já na infância que há um conjunto de
comportamentos interditos para eles e para elas, a partir das representações
sobre a agressividade aceita para os homens e a aceita para as mulheres. AUAD
A equidade ainda não está presente em todo o profissional
da educação, muitas vezes a imparcialidade não exercida compromete a avaliação
do momento em que ocorre a necessidade de existir o bom senso para resolver
questões difíceis em sala de aula. Não reconhecer os atos de inibição, ou
opressão em função das diferenças e até mesmo a violência praticada para
resolver os processos de desigualdades nos elementos reconhecidos de masculino
e feminino, tem se mostrado desafios educacionais e portadores dos empecilhos
da evolução no processo de anuência das diferenças.
A ÉTICA EDUCACIONAL
A educação apresenta-se
ética na forma de equilibrar as desigualdades, o problema é quando a educação mediada
continua inserida no contexto do preconceito, assim, portanto continua
reproduzindo os mesmos equívocos. Os profissionais da educação
muitas vezes afirmam as diferenças com um discurso que meninas possuem letra
mais bonita que dos meninos, que meninas são mais comportadas que meninos,
assim reproduzindo estereótipos.
Conforme Freire
A ética de que falo é a que se sabe traída
e negada nos comportamentos grosseiramente imorais como na perversão hipócrita
da pureza em puritanismo. A ética de que falo é a que se sabe afrontada na
manifestação discriminatória de raça, de gênero, de classe. É por esta ética
inseparável da prática educativa, não importa se trabalhamos com crianças,
jovens ou com adultos, que devemos lutar. E a melhor maneira de por ela lutar é
vivê-la em nossa prática, é testemunhá-la, vivaz, aos educandos em nossas
relações com eles. FREIRE
A ação docente carece de equidade, compromisso e ética. Percebemos
a importância dos vários agentes envolvidos para que ocorram as transformações
esperadas e desejadas pelo binômio família/escola. Para tanto são necessárias
reformulações em currículos, profissionais preparados e atualizados,
compromisso e envolvimento dos educadores. Com todos esses elementos, o
discurso ficará vazio, nada acontece se não houver ética nos procedimentos. Só
poderemos exercer uma ética se realmente a vivermos em nosso dia a dia. Se a
incorporamos em nossa personalidade. As praticas cotidianas somente poderão ser
fundamentadas nas bases éticas comportamentais.
O jogo de empurrar as responsabilidades para outros no
momento da dificuldade, estabelece um circulo vicioso na qual as questões de
gênero são imputadas para outro segmento da sociedade, e muitas vezes as formas
apontadas das causas estão relacionadas com atitudes e educação. Sendo assim,
parece logico refletir que todos são responsáveis socialmente por questões que
envolvam o equilíbrio da convivência humana. Mas é nos espaços da educação
formal, a escola, mais especificamente na sala de aula, que aparecem evidências
formalizadas em violência, preconceito, bullying. O respeito pelas diferenças
raciais, gênero, classe social, enfim a diversidade dos agentes sociais que se
apresentam no momento contemporâneo, necessita ser pensado interdisciplinarmente, e de trabalho
coletivo em favor da sensatez e bom senso, buscando a estabilização das
relações humanas. Embora o processo seja lento, requer pesquisa cientifica e
fundamentada em experiência, no sentido de auxiliar o docente a interagir com
suas limitações e superara-las.
A educação exercida de forma democrática e liberada de
preconceitos incrustados de geração em geração, em um processo de desconstrução
para construir, não parece apresentar fácil execução, porem os educadores
precisam preparar suas qualificações no desenho da contemporaneidade.
REFERÊNCIAS
AUAD, Daniela. Relações
de Gênero nas práticas escolares: da escola mista ao ideal de coeducação. Tese
(Doutorado em Educação, área de Sociologia da Educação), São Paulo, Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo, 2004.
BRANDÃO. Carlos R. O
que é educação, 33ª Ed. Brasiliense, São Paulo. 1995
FREIRE, Paulo.
Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
______. Pedagogia da
autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
2000.
______. Pedagogia da
esperança um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro Paz e
Terra, 1997.
______. Educação como
prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GUIMARAES, Leticia de Castro. Relação de gênero na escola:
contribuições da pratica docente para a desmistificação de preconceitos em
relação ao sexo. Pesquisa de conclusão de curso da Universidade Federal do Maranhão.