sábado, 24 de agosto de 2013

Considerações sobre o aporte da imprensa no status social da mulher

Considerações sobre o aporte da imprensa no status social da mulher
Maria Cristina Pastore
          A sociedade procurou estabelecer certas normas de condutas, na qual o papel da mulher nas relações sociais era bem definido. Sua função era de cuidar dos filhos e da casa. Com este estereótipo se constituía uma sociedade patriarcal. Assim as relações de poderes estavam estabelecidas e a sociedade classista, sexista e racista exercia um discurso no qual a mulher não tinha representatividade. Manter ou transformar uma situação dependia dessas relações entre os tipos sociais. A mulher se dividia entre o permitido e o proibido.
          Pensar a imprensa como colaboradora do processo emancipador da mulher, parece abrir precedentes na luta para a igualdade de gênero. Analisando as informações sobre o século XIX, no qual compreende um universo exclusivo de homens, principalmente no ambiente de gráficas, as mulheres demonstram através de pequenas publicações, que estão buscando compreender e penetrar nesse universo.
          Uma das primeiras aberturas para moldar o espaço de atuação da mulher foi pequena, mas significativa no processo de emancipação. Ocorre na França, em um almanaque com explicações sobre problemas domésticos e aconselhando remédios para uso caseiro. Talvez os editores não percebessem a importância desse momento, nem as mulheres, mas estava acontecendo algo inusitado no campo das relações sociais. Talvez os homens permitissem tal fato devido ao ato inofensivo da liberação de um espaço para tratar de assuntos pertinentes ao universo feminino. De uma forma simples a força da mulher estava começando a se sobressair e a impressa abre precedentes para o discurso feminino.
          Da necessidade de conquistar seu espaço e avançar nos limites impostos por uma sociedade patriarcal e moralista, a mulher procura na literatura subsídios e subterfúgios para lidar com questões proibidas para o sexo feminino, como politica e mais recente o futebol.
          O tempo e a história demonstram um movimento lento, mas intenso nas atividades ligadas a luta pela igualdade de direitos. Desde as primeiras manifestações de produção do discurso feminino até a liberação sexual da década de 60, e atualmente, a mulher ainda está buscando vencer o preconceito. Não faz muito tempo que poucas mulheres trabalhavam, produziam arte e se mostravam a frente do seu tempo, mesmo sofrendo com convenções sociais e atitudes de homens conservadores.
          A imprensa pode ter aberto espaço por achar conveniente, mas continua demonstrando ou usando o corpo, sexualidade feminina e as formas sensuais para representar a mulher que trabalha e estuda. A imagem que a mídia informa para seus leitores é de uma mulher feliz, sexy, atraente, provocando assim uma tendência de busca pela felicidade e o corpo perfeito. Nesse sentido a imprensa, as mídias, (TV, revistas, etc.) concebe padrões de consumo e beleza, estabelecendo as relações de poderes. A luta não é mais pelo espaço midiático e sim pela valorização da mulher como profissional, pela qualificação igualitária e salários justos com a função exercida. A luta é pelos direito de ser “normal” e não um objeto de consumo. A luta é para ser reconhecida e respeita como capaz de exercer qualquer função exclusiva do sexo masculino.
          Tendências mercadológicas estão usando a imagem da mulher emancipada, para produzir comportamento desejado em função do consumo de certos produtos. Conforme a autora Dulcília Buitoni (1981 p. 105) “Eis a nova mulher, antiga por dentro e nova por fora, com mais algumas algemas douradas” se refere as transformações que a mulher conquistou, na qual a sociedade “permitiu” mas usa essa “permissão” de liberdade em favor de interesses próprios. Essa visão não representa os ideais de liberdade e emancipação da mulher.
           Em uma sociedade que a informação circula em uma velocidade incontrolável, o capitalismo exerce seu domínio na mídia que por sua vez exerce influencia comportamental. Michel Foucault sociólogo e historiador aponta para uma sociedade que exclui e rejeita certos padrões de comportamento.
     "Existe em nossa sociedade outro princípio de exclusão: não mais a interdição, mas uma separação e uma rejeição. Penso na oposição razão e loucura. Desde a alta Idade Média, o louco é aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros: pode ocorrer que sua palavra seja considerada nula..."(FOUCAULT, 2006 p. 10).
           Camile Claudel representa o exemplo de desigualdade de gênero e a loucura usada como interrupção do discurso conforme Foucault se refere. O status de mulher submissa e imprópria para exercer profissões que incomodam o masculino, foi exercido pela assistente do escultor famoso por suas obras escultóricas, Rodin, que na realidade eram produzidas por Camile. No momento de sua explosão criativa, Camile viveu a pressão de uma sociedade machista e dominadora da época e morreu internada em um hospital psiquiátrico e nunca mais produziu seu discurso aqui representado pela escultura.
           Observamos neste estudo que a imprensa auxiliou o discurso libertário da mulher se expandir abrindo espaço em seus folhetos, jornais, revistas; revisamos o percurso da luta da mulher que provocou rupturas na sociedade. Porém percebemos que o poder que liberta é o mesmo poder que controla na sociedade contemporânea. Parece que apesar das inúmeras conquistas o estereotipo feminino não foi totalmente demudado, ainda são perceptíveis as diferenças sociais em relação ao gênero.  
REFERÊNCIAS 
BUITONI, Dulcília Schroeder. Imprensa Feminina. Série Princípios. 2.ed. São Paulo: Ática, 1990.
______Mulher de papel: a representação da mulher na imprensa feminina brasileira. São Paulo: Loyola, 1981.
FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. 13. ed. São Paulo: Loiola, 2006.

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